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28 de junho de 2007

Deputado do PSol denuncia abuso na operação no Alemão

"A favela está como sempre. Homens fortemente armados e a ausência total do Estado". A declaração foi feita pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, Marcelo Freixo, do PSol, que esteve hoje nas favelas da Grota e da Fazendinha, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio, acompanhado da ONG Justiça Global e do coordenador do Afroreggae, José Junior.
De acordo com o parlamentar, os moradores relataram que a operação de ontem deixou um saldo de abusos policiais, extorsões e inocentes mortos. "Os moradores reconhecem que nove dos mortos eram ligados ao tráfico, mas os outros seriam inocentes e, alguns deles, teriam sido mortos a facadas", declarou Freixo, que se encontrará hoje com o secretário estadual de segurança pública do Rio, José Mariano Beltrame, junto com uma comissão de moradores do conjunto de favelas.
Tiros pela manhã - Após uma madrugada sem confrontos, a situação de aparente tranqüilidade no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, foi quebrada na manhã desta quinta-feira com a incursão de um carro blindado do 16º Batalhão de Polícia Militar (Olaria), apelidado de "caveirão", na favela da Fazendinha - local da morte de pelo menos quatro dos 19 traficantes que morreram ontem em confronto com a polícia.
O veículo foi alvejado por cerca de três tiros, mas os policiais não revidaram, segundo a PM. Agentes da Força Nacional de Segurança e homens da Polícia Militar voltaram a ocupar os acessos das favelas do Complexo nesta quinta-feira.
Sete escolas e uma creche permanecem fechadas nos arredores do conjunto de favelas. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 4,6 mil crianças permanecem sem aula. Policiais militares não descartam a possibilidade de encontrar mais corpos de criminosos dentro das favelas. O chefe do tráfico local, conhecido como Tota, estaria ferido na perna.
Noite violenta - O Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmou em entrevista coletiva que 13 pessoas morreram e 9 ficaram feridas durante a megaoperação realizada no fim da tarde desta quarta-feira pelas polícias Civil e Militar no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. No fim da noite, porém, uma kombi com seis corpos chegou ao Hospital Getúlio Vargas, no bairro da Penha, e o saldo de mortos subiu para 19.
A polícia divulgou um balanço das apreensões em três pontos do complexo na última quarta-feira, Chuveirinho, Matinho e Areal: 40 quilos de cocaína, 115 quilos de maconha, 50 explosivos, cinco fuzis, cinco pistolas e duas metralhadoras antiaéreas ponto 30 e 2 mil projéteis. A operação tinha como objetivo desarmar a facção criminosa que controla o tráfico de drogas no complexo. O cerco aos acessos das favelas que integram o Complexo do Alemão continuará por tempo indeterminado.
Quatro acusados foram presos, mas o apontado como chefe do tráfico na aérea, José Antonio de Souza Ferreira, conhecido como Tota, continua solto, segundo o chefe da Polícia Civil Gilberto Ribeiro.
“Como sabíamos das dificuldades que encontraríamos no local, entramos com mais de 1.300 homens e posso dizer que logramos êxito em desarmar uma facção expoente no Rio de Janeiro”, disse Beltrame.
“Este material (armas) não chegou lá a partir de 2007. O tráfico acumulou equipamentos enormes durante anos e anos. Não vamos compactuar com o estado de violência, como estava acontecendo ali. Temos a obrigação de agir e levar paz e tranqüilidade aos cidadãos.”
Opção - Beltrame acrescentou que houve um “baque muito forte” ao comando do tráfico de drogas no local e confirmou que a ocupação policial permanecerá no complexo de favelas.
“A sociedade também tem que optar. Se ela quer que as pessoas fiquem sem tiros em determinadas favelas, mas a mercê do tráfico, ou se elas querem que o Estado ali se imponha e expulse o tráfico”, declarou o secretário.
Segundo ele, a operação foi planejada diariamente durante três meses para que houvesse o menor risco à população civil.
Depois que o tiroteio começou, no entanto, o comércio da região fechou as portas, e pais correram para tirar seus filhos das escolas. Os traficantes, por sua vez, fizeram barricadas e espalharam óleo para impedir que os blindados da polícia subissem o morro. Mesmo assim, asseguram os policiais, a ação chegou a locais dentro do conjunto de favelas que não eram alcançados há dez anos.
A força federal – cerca de 150 agentes da Força Nacional de Segurança estiveram na operação – foi enviada ao Rio no começo do ano, depois de uma onda de ataques a postos policiais e ônibus. O chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, disse que a ação no Alemão seria “cirúrgica”, com base em atividades de inteligência realizadas desde que a polícia ocupou a vizinha favela de Vila Cruzeiro, no dia 2 de maio.
Até terça-feira, mais de 20 pessoas já haviam sido mortas e cerca de 70 feridas – a maioria, vítimas de balas perdidas dos freqüentes tiroteios entre policiais e traficantes.
Jogos Pan-americanos - A violência na cidade desperta preocupações para os Jogos Pan-Americanos, já que o Rio tem uma das maiores taxas de homicídios das Américas --1.800 assassinatos foram registrados na Região Metropolitana nos quatro primeiros meses do ano.
Uma reportagem publicada nesta quinta-feira no jornal argentino "La Nación" afirma que as autoridades cariocas estão apreensivas com a segurança durante os jogos. O Rio deve receber 5.500 atletas de 42 países e territórios, além de quase 800 mil turistas, durante os 16 dias do evento, que será aberto oficialmente em 13 de julho.
Cerca de 6.000 agentes da Força Nacional de Segurança vão vigiar as ruas da cidade durante os Jogos, ajudados por 16,5 mil policiais estaduais, alguns dos quais vão ocupar as favelas mais perigosas. Parte do esquema especial de segurança entra em vigor no sábado.

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