Índios da tribo Truká se juntaram aos manifestantes que ocuparam o canteiro de obras de transposição do Rio São Francisco (Foto: João Zinclar/AE)
Para o ministro Geddel Vieira Lima, dialogar com os manifestantes não significa renunciar ao projeto de transposição
O advogado da União Jones Oliveira da Cruz, da Procuradoria Seccional de Petrolina (PE), ingressou ontem na 20ª Vara Federal de Salgueiro com ação de reintegração de posse do canteiro das obras do Projeto de Transposição do Rio São Francisco, em Cabrobó, no sertão pernambucano, ocupado por manifestantes contrários ao projeto. A informação é da Assessoria de Imprensa da Advocacia-Geral da União (AGU). O coordenador do Projeto de Integração do Rio São Francisco, Rômulo de Macedo Vieira, que foi a Cabrobó conversar com os representantes dos movimentos sociais, acompanhou o advogado.
Na última terça-feira, mais de mil manifestantes de movimentos sociais chegaram a Cabrobó para tentar impedir a continuidade das obras de integração do Rio São Francisco. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, em declaração à Agência Brasil lembrou que a área ocupada já foi desapropriada para a execução das obras e que, “portanto, é de propriedade da União”.
Sem entendimento
Segundo Geddel, a intenção do governo federal é de dialogar com manifestantes contrários às obras de transposição no Rio São Francisco. Mas ele deixou claro que dialogar não significa renunciar ao projeto. Questionado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre a suposta falta de interlocução do governo com os manifestantes que estão acampados em Cabrobó (PE) para tentar impedir a realização das obras na região, Geddel disse que esse processo tem sido ideologizado e politizado e que o debate não tem sido feito da maneira como deveria.
"Se o diálogo significa ouvi-los, para das suas experiências aprimorar o projeto, eu estou permanentemente aberto a todos aqueles que queiram contribuir. Mas, se o diálogo significa renunciar legitimidade obtida nas urnas, para governar, que o presidente Lula me subdelegou, evidentemente que tenho a convicção que já fiz minha parte”, afirmou o ministro durante audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado.
O interlocutor enviado pelo Ministério da Integração Nacional para dialogar com os manifestantes, Rômulo de Macedo Vieira, disse ontem que não foi possível chegar a um acordo em relação à retirada dos acampados da área e que o governo vai buscar agora uma solução judicial.
"Eles simplesmente nos disseram que não há o menor interesse de estabelecer um entendimento com o ministério. Agora, estamos tomando providências, pedindo a reintegração de posse. Tem que ir pela via judicial, já que não há nenhuma perspectiva de entendimento com os movimentos sociais”, afirmou Vieira. “O pessoal me recebeu com muita educação, fomos bem tratados, não há nenhum sinal de violência ou de intenção de praticar violência. Eles estão conscientes do que estão fazendo”.
A coordenadora regional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Bahia, Marina da Rocha Braga, disse que os líderes do acampamento questionaram o tipo de diálogo proposto pelo Ministério da Integração Nacional, já que, ao mesmo tempo em que foi enviado um interlocutor, o governo prepara uma ação na Justiça.
Em relação à reivindicação da tribo Truká, que considera a área como terra indígena, Vieira disse que existe apenas uma pequena parte da tribo solidária à manifestação dos assentados. “A grande maioria do povo Truká não participa do movimento e não fala em reivindicação das terras”.
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