Rapaz que passava teria registrado imagens da confusão em câmera de celular.Jovem de 19 anos foi morto com facada no peito em bar em área nobre de SP.
Luciana Bonadio
Do G1, em São Paulo
O gerente de restaurante Ricardo Amaral Batista, pai do garçom John Clayton Moreira Batista, de 19 anos, morto na madrugada de sábado (23) em um bar nos Jardins, na Zona Oeste de São Paulo, disse que um rapaz que passava pelo local filmou o crime com a câmera do celular.
“Tivemos uma surpresa ontem (domingo). Um rapaz que estava passando no momento do fato tem uma filmagem em um telefone celular, que mostra meu filho correndo”, afirmou Batista em entrevista ao G1 nesta segunda-feira (25).
O jovem, que trabalha em um supermercado na região do crime, foi até a casa da família de John, mas o pai preferiu não ver as imagens. “É muito trágico”, disse.
O garçom foi morto a facadas por um grupo que seria de jovens punks em um bar na esquina da Rua da Consolação com a Alameda Lorena. Quatro maiores de idade foram presos em flagrante e outros quatro menores (entre eles duas adolescentes) foram apreendidos, suspeitos de participação no crime.
O pai viu os suspeitos no sábado, enquanto tentava liberar o corpo do filho. “É complicado. O crime foi nos Jardins e (feito por) pessoas que conhecem seus direitos”, afirmou. Batista acha que a filmagem pode ajudar a esclarecer quem deu a facada que matou o jovem. “Eles não tiveram piedade nenhuma.”
Batista diz que aconselhou o filho a trabalhar em uma região nobre da cidade por temer a violência no bairro em que morava no município de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Ele era garçom há quatro anos no Café Armani. “A gente sempre temia que acontecesse este tipo de coisa aqui, por isso a gente colocou ele para trabalhar em locais afastados”, disse.
John era uma pessoa cativante, de acordo com o pai. “Ele cativava as pessoas por não ter maldade nenhuma”, afirma. Batista diz que a prova da personalidade do filho foi o carinho das pessoas que foram ao enterro do jovem, ocorrido no sábado no Cemitério da Saudade, em Taboão da Serra.
O gerente de restaurante acha que as investigações estão “indo bem”. Em entrevista logo após o crime, ele disse temer a impunidade. “Aquilo que a gente temia, que seria a liberação dos criminosos logo, não aconteceu e eles ainda estão presos.”
O crime
O garçom foi ao bar na noite de sexta-feira (22) para tomar cerveja com dois amigos após terminar seu trabalho em um café no mesmo bairro. Após uma confusão, o rapaz morreu esfaqueado. John estava numa mesa externa do bar, por volta das 21h30 de sexta-feira, quando um grupo teria começado a agredir clientes da casa e a atirar garrafas em sua direção. Perseguido por dois integrantes do bando, ele se refugiou no bar e foi esfaqueado no peito. Morreu enquanto era socorrido no Hospital das Clínicas, na região central de São Paulo.
Isqueiro emprestado
Estavam na mesa com Batista Tatiana Polacow Augusto, de 25 anos, e Rafael Rodrigues, também de 25. Tatiana contou que era comum ir àquele bar depois do trabalho, com os dois amigos. “Estávamos bebendo numa mesa da calçada, quando uma garota punk se aproximou e pediu isqueiro para o Rafael. Ele disse que não tinha e dei o meu a ela. Depois de acender o cigarro, ela se retirou fazendo gesto obsceno para o Rafael. Logo depois chegou o grupo agredindo todo mundo.”
Eles vestiam roupas pretas, rasgadas e coturnos, mas a polícia não confirma que o grupo era de punks. “Ainda não confirmamos se eles são dessa facção. Eles têm algumas características como as armas usadas, vestiam jaqueta, tinham cabelos arrepiados e dois com cabelo raspado”, disse o delegado que estava de plantão no momento da ocorrência, Rodrigo Fiacadori. “Eles negam que sejam de qualquer grupo.”
Tacos de beisebol
As testemunhas disseram à polícia que os agressores utilizaram como armas uma bola de bilhar envolta em uma meia, taco de beisebol, taco de beisebol com ponta de ferro e uma faca chamada butterfly. As armas não foram encontradas após a prisão dos envolvidos, que haviam fugido do bar depois da confusão.
As testemunhas afirmam que o grupo não tinha um alvo específico como pessoas negras ou homossexuais, e sim que estavam em busca de briga. “Eles queriam ferir quem estivesse pela frente. Eu corri e atravessei a Alameda Lorena. O John estava comigo. Dois caras vieram atrás de nós. O John mudou o rumo e correu para dentro do bar. Os punks saíram correndo atrás dele. Aí eu vi que ele estava caído no chão. Antes disso, vi um deles mostrar uma faca, mas não sei se foi ele que o agrediu”, contou Tatiana.
Ana Paula del Conte, outra testemunha, tem relato parecido. “Levei chute, soco na nuca e vi garrafas voando para todos os lados. Foi provocação, eles queriam briga de qualquer jeito.”
Punks
Para o delegado titular do 78º DP, Marcos Gomes de Moura, os acusados “são punks, mas o motivo do crime seria banal. São jovens de classe média que saem para fazer baderna.” O delegado afirmou ainda que na região acontece uma ocorrência por mês cometida por grupos de punks. “Eles freqüentam a região porque tem muitos bares de rock.” O delegado descarta que o crime tenha relação com o esfaqueamento do francês Grégor Erwan Landouar, de 35 anos, que ocorreu na mesma região durante a Parada Gay.
Os criminosos teriam afirmado ao delegado que haveria mais um integrante do grupo, e que ele estaria foragido. “Todos serão responsabilizados pelo crime. Apesar de se dizerem inocentes, as testemunhas foram enfáticas em dizer que foram eles”, diz Moura. Entre os crimes a que os infratores serão indiciados está o de homicídio doloso e lesão corporal dolosa. A princípio, nenhum deles tem passagem pela polícia.
Os detidos têm entre 15 e 21 anos. A pivô da confusão foi uma menor de 17 anos.
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