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8 de junho de 2007

Diálogo entre ricos e emergentes fracassa; Lula se irrita

Lula ficou visivelmente contrariado com o fato de o G-8 ter ignorado as posições dos emergentes convidados e cravado compromisso sobre temas delicados
Denise Chrispim Marin e Jamil Chade
Sergio Dutti/AE
Lula faz proposta para próxima reunião: promover a discussão entre o G-8 e os cinco emergentes antes do encontro reservado apenas aos oito grandes, para que possam refletir e analisar as posições de seus convidados
HEILINGEDAMM - A proposta de diálogo aberto e franco entre o grupo dos países mais influentes no cenário internacional, o G-8, e as cinco principais economias emergentes - África do Sul, Brasil, China, Índia e México - converteu-se em engodo no balneário alemão de Heiligendamm, onde os grupos encontraram-se nesta sexta-feira, 7. Dessa reunião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu visivelmente contrariado com o fato de o G-8 ter ignorado as posições dos emergentes convidados e cravado compromisso sobre temas delicados ao mundo em desenvolvimento - a liberação dos investimentos diretos, a reabertura das discussões sobre a quebra de patentes em casos de emergência de saúde pública e o compromisso de redução de emissão de gases poluentes.
O presidente anunciou, em entrevista à imprensa, que propôs para o próximo encontro, que se dará no Japão, em 2008, o "cuidado" de adotar uma nova metodologia. A fórmula sugerida por Lula é tão simples quanto óbvia: promover a discussão entre o G-8 e os cinco emergentes antes do encontro reservado apenas aos oito grandes, para que possam refletir e analisar as posições de seus convidados.
"Eu fiz questão de dizer (durante a reunião) que não tinha havido essas discussões e que, portanto, tinha coisas no documento do G-8 com as quais nós não poderíamos concordar", relatou o presidente. "Eu propus que o G-5 (os cinco emergentes) e outros países fossem convidados se reúnam antes com o G-8, que disséssemos o que pensamos antes. Para que, quando eles forem fazer a reunião (reservada) do G-8, levem em conta a existência das nossas propostas."
Mais enfático, Lula declarou que o documento do G-8 "levou muito em conta" a proposta do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sobre a questão da mudança de clima - sem metas específicas e fora do sistema das Nações Unidas. Ainda teve um "agravante" - a decisão de ignorar a posição do G-5 sobre o assunto, que é totalmente oposta e que leva em consideração a responsabilidade maior das grandes economias na emissão de gases que provocam o efeito-estufa.
"Houve uma reunião, em Berlim, na qual não foram discutidas as questões que estão no documento do G-8. (O texto) passa essa idéia que houve uma discussão e que houve concordância", assinalou o presidente. "Fiz questão de começar a reunião dizendo que não tinha havido esta discussão e que tinha coisas no documento do G-8 com as quais não poderíamos concordar (com o texto)."
Lula deixou claro que o G-5 não aceitará que limites sejam impostos a suas economias, exatamente no momento em que começam a crescer. "Aceitamos que esses países (emergentes) terão responsabilidades diferenciadas", disse. Mas segundo ela, até 2012, quando vence parte do Protocolo de Kyoto, os países industrializados do G-8 representarão apenas 30% das emissões mundiais. "As emissões dos países emergentes serão significativas. Não podemos sozinhos combater o aquecimento global e deixar os demais países em um caminho doce", afirmou.
Irritação com documento
A irritação girou em torno das divergências entre o documento "Crescimento e Responsabilidade na Economia Mundial", redigido pelo G-8 em Heiligendamm, e o comunicado final do encontro do G-5, também concluído e divulgado na quinta-feira, 7, em Berlim. O texto do G-8 defende acirradamente a liberalização do ingresso de capitais produtivos, sobretudo nas economias em desenvolvimento, e a revisão de regras e mecanismos de maior controle sobre as patentes industriais e o combate à pirataria.
Tratam-se de temas caros para os países emergentes, sobretudo ao Brasil. O abrandamento de suas posições sobre essas temas significaria, do ponto de vista do Itamaraty, a diminuição da capacidade de o Estado adotar políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento econômico.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o fato curioso desse constrangimento foi de que a Alemanha assinou ambos os documentos - do G-8 e do G-5. Conforme explicou, a chanceler alemã, Ângela Merkel, explicara que o texto do G-8 era preliminar e seu conteúdo seria concluído apenas em 2008, na Cúpula do Japão. Ou seja, não haveria nenhum compromisso definitivo dos países do G-8 - versão que causa estranheza.

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