Alexandre Rodrigues
O secretário José Mariano Beltrame assumiu como prioridade de sua política de combate à criminalidade a desarticulação do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio. Em entrevista exclusiva ao Estado em maio, ele revelou que o objetivo das operações na Vila Cruzeiro, favela adjacente ao Complexo do Alemão, iniciadas com o assassinado de dois policiais militares por traficantes locais, era na verdade atingir o quartel-general da facção, localizado na comunidade. Para ele, mais da metade dos crimes ocorridos no Rio, principalmente os roubos de carro, tem ligação com o tráfico do Alemão.O secretário busca as reservas de armas e drogas da quadrilha, mas quer alcançar principalmente líderes do tráfico e a logística de contabilidade da facção, que está baseada no Alemão.
Delegado federal que atuou na Missão Suporte (Serviço de Inteligência) da Polícia Federal, Beltrame conquistou o aval do governador Sérgio Cabral (PMDB) para manter a pressão policial sobre a favela, apesar da controvérsia provocada pelo alto número de feridos e mortos por balas perdidas.
"Temos que optar e seguir em frente", defende. Para o secretário, os confrontos são inevitáveis por causa da capacidade bélica dos traficantes. Ao Estado, ele chegou a dizer que não pode "fazer um bolo sem quebrar os ovos". Hoje repetiu: "A ação da polícia não é violenta. Nós não vamos a essas áreas buscar nem produzir violência, mas a cada vez que entramos somos rechaçados".
Em seguida às primeiras operações na Vila Cruzeiro, a polícia concentrou-se na retirada de barreiras instaladas pelos traficantes nas ruas para impedir o acesso da polícia. Até um carro roubado atravessado numa viga foi usado pelos bandidos para atrapalhar a movimentação do caveirão. A polícia conseguiu prender o traficante Marcelo PQD, tido como responsável pelas táticas de guerrilha adotadas pela quadrilha, produzindo o primeiro grande baque na organização da quadrilha.
Durante o primeiro mês de ocupação, a secretaria monitorou a entrada de munição na Vila Cruzeiro e a movimentação de traficantes e resolveu ampliar a atuação para todo o Complexo do Alemão. Desde o último dia 14, homens da Força Nacional de Segurança ajudam a PM no cerco aos acessos do conjunto de favelas, de onde a polícia acredita vir o reforço. A operação de hoje é mais uma etapa na estratégia do secretário, que quer chegar a uma situação em que possa implantar na região uma nova política permanente de policiamento, sem dar chance para que novos territórios paralelos, como ele mesmo define, se legitimem.
Para tanto, o secretário vem insistindo na necessidade de a população colaborar com a polícia, dando informações para que o trabalho de inteligência tenha mais sucesso. Os 58 dias em que a polícia permanece no Alemão estão sendo usados pelos órgãos de segurança para levantar dados que permitam novas ações cirúrgicas como a de hoje. "O período que ficamos lá nos serviu para conhecer cada vez melhor a área, para ver como o tráfico se movimenta, qual o modus operandi, que tipo de armamento eles usam para fazermos operações com o maior número de dados possíveis".
No entanto, o secretário não tem pressa. Ele afirmou que esperará o tempo que for preciso para reunir informações que levem a operações com objetivo definido como a de ontem, com o objetivo de minimizar os riscos para a população.
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