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12 de janeiro de 2008

Cientistas usam embrião sem destruí-lo

Equipe americana adaptou técnica usada em fertilização assistida para evitar questionamento ético à pesquisa

Herton Escobar

Pesquisadores nos Estados Unidos anunciaram ter criado várias linhagens de células-tronco embrionárias humanas sem destruir os embriões dos quais elas foram retiradas. Eles se aproveitaram de uma técnica já usada em clínicas de reprodução humana, chamada diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), na qual uma única célula é retirada do embrião ainda precoce.

Na fertilização assistida, a célula retirada é usada como uma biópsia para checar se o embrião é portador de alguma doença genética. No novo estudo, chefiado por Robert Lanza, da empresa Advanced Cell Technology, a célula foi cultivada com ingredientes especiais para formar colônias de células-tronco embrionárias, que poderão ser usadas em mais pesquisas. Os resultados foram publicados pela revista Cell Stem Cell.

Dois meses atrás, cientistas no Japão e na Universidade de Wisconsin, também nos EUA, publicaram trabalhos revolucionários mostrando a derivação de células pluripotentes (equivalentes às embrionárias) a partir de células adultas da pele - o que também evitaria a destruição de embriões humanos, que é o grande empecilho ético levantado contra essa linha de pesquisa.

Mas a técnica ainda enfrenta vários obstáculos, entre eles a necessidade da utilização de vírus para introdução de genes nas células adultas. Já o trabalho de Lanza mostra que é possível obter células-tronco embrionárias “originais” sem destruir embriões.

Para pesquisadores nos Estados Unidos, especificamente, seria uma saída para pleitear verbas federais para estudos nessa área, já que a política do presidente George W. Bush proíbe o financiamento de projetos que envolvam a destruição de embriões humanos. Ainda assim, é provável que essa expectativa seja frustrada.

Story Landis, chefe do grupo científico que supervisiona a aprovação de verbas para pesquisas com células-tronco embrionárias nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), disse ao jornal The Washington Post que “é impossível saber definitivamente” se os embriões não foram de fato danificados pelo procedimento. A única maneira de ter certeza disso seria colocar o embrião no útero de uma mulher e ver se ele produziria uma gestação, o que seria considerado antiético.

MELHORIAS

Pela técnica, uma única célula foi extraída de embriões com apenas oito células, logo nos primeiros estágios pós-fertilização. Os embriões, que foram doados para a pesquisa, continuaram a se desenvolver normalmente até o estágio de blastocisto, com aproximadamente cem células - prova de que não foram danificados pelo processo, segundo os cientistas. Em seguida, foram congelados.

Lanza já havia publicado um estudo semelhante em 2006, mas os resultados foram questionados pela comunidade científica por vários motivos. Entre eles, por não demonstrar claramente que os embriões continuavam viáveis, já que, nesse caso, foram descartados logo após a biópsia.

Nesse novo trabalho, Lanza diz ter solucionado todas as dúvidas, e com uma eficiência muito maior. Foram obtidas cinco linhagens de células-tronco embrionárias. E dos 43 embriões que passaram pela biópsia, 36 (ou 83%) chegaram ao estágio de blastocisto. É uma taxa de sucesso equivalente à obtida nas clínicas de reprodução humana, com ou sem a realização do PGD - que é indicado apenas em casos de alto risco de doença genética.

“Acho pouco provável que isso se estabeleça como uma técnica de rotina (para obtenção de células-tronco embrionárias)”, avalia o especialista brasileiro Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dificilmente um casal infértil arriscará fazer uma biópsia de seus embriões apenas pelo bem da ciência. E mesmo que os embriões doados não sejam destruídos, eles serão congelados e não aproveitados - o que seria apenas uma solução artificial aos questionamentos éticos, aponta Rehen.

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