Zulmira FurbinoDo Estado de Minas
06/10/200708h30-O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, admitiu na sexta-feira que o país poderá passar por novo racionamento de energia elétrica nos próximos anos. Durante palestra na Câmara de Comércio França-Brasil, ele afirmou que, se vier a ocorrer, o apagão vai atingir apenas os consumidores livres, ou seja , o bloco de 600 grupos empresariais de consumo intensivo, que compram e vendem o insumo no mercado livre e que respondem por cerca de 30% de toda a energia consumida no país. Os outros consumidores, incluindo os residenciais, ficariam de fora. “Espero que o país não venha a precisar fazer corte de energia como observado em 2001. Mas, se for necessário, ficará restrito aos consumidores livres”, afirmou.
O governo trabalha com um risco de 5% de racionamento em 2011, mas estudos do Instituto Acende Brasil apontam para uma chance 3,4 vezes maior: 22%. De acordo com o professor de Pesquisa Energética (Coope) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, desde o racionamento, em 2001, os grandes grupos que atuam no mercado livre se beneficiaram da energia barata pós-apagão e lucram com isso até hoje, comprando e vendendo energia de várias maneiras.
“Estão quase sempre ligados a grandes distribuidoras e desestabilizam o mercado porque seus contratos não estão sob o controle do governo”, explica. Mas, segundo o especialista, mesmo que o apagão fique restrito a essas empresas, toda a sociedade pagará caro por ele.
“Um apagão assim iria estrangular a economia, causando queda do crescimento e desemprego”, diz Rosa. Segundo ele, os empresários mais pessimistas apostam que o apagão vai ocorrer em 2009. Os mais otimistas falam em 2010. “Se, nesse período, o crescimento econômico ultrapassar a barreira dos 5%, esse processo se acelera”, sustenta.
Para Cláudio Sales, presidente do Acende Brasil, o risco de racionamento em 2011 é grande e pode aumentar ainda mais, caso os planos do governo federal para garantir o suprimento no Brasil sofram algum tipo de revés. Nos cálculos dele, para um cenário de crescimento econômico de 4,8%, o risco permanece nesse patamar, sem aumentar, caso não haja qualquer atraso nas usinas previstas para entrar em operação e o compromisso da Petrobras de trazer Gás Natural Liquefeito (GNL) do exterior para abastecer as termelétricas seja rigorosamente cumprido – além de o programa de incentivo de fontes alternativas, com capacidade de geração de 3.100 Mwmédios, também saia do papel. “Nesse cenário, o risco de decretar racionamento é de 22%, quando o aceitável é de 5%”, observa.
Durante sua palestra, o diretor-geral da Aneel disse que a questão do gás natural na matriz energética brasileira é um “assunto que está sendo resolvido". Ele lembrou que a entidade entrou em conflito com a Petrobras quando constatou que não havia gás suficiente para as usinas térmicas movidas a gás natural.
"Olhando para trás, vejo que a nossa posição de exigir que o fornecedor (a Petrobras) garantisse o gás para as térmicas estava certa. O gás está aparecendo. Para nós, de nada adianta um carro sem combustível”, comparou.
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