Líder francês quer evitar que ativistas sejam condenados no Chade por seqüestro de 103 crianças
Andrei Netto
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse ontem que seu governo e o Chade precisam encontrar um acordo para retirar as acusações de seqüestro contra os seis ativistas da ONG francesa Arca de Zoé detidos na quinta-feira, quando tentavam levar 103 crianças africanas para a Europa.
Os ativistas 'agiram errado', disse Sarkozy. 'Paris condena essas atividades', prosseguiu, assinalando ter dito isso ao presidente do Chade, Idriss Deby, por telefone. 'Vamos tentar acertar um acordo para que ninguém neste caso fique mal', acrescentou. 'Precisamos saber por que e para que essas crianças foram pegas.
'A Arca de Zoé é acusada pelo governo do Chade de liderar uma operação de 'seqüestro de crianças' em Darfur, região do Sudão em guerra civil. O governo chadiano acusa os seis ativistas franceses de seqüestro e tráfico de seres humanos. Se condenados, podem pegar de 5 a 20 anos de prisão com trabalho forçado. Dois chadianos, três jornalistas franceses e sete tripulantes espanhóis do avião que transportaria as crianças do Chade para a França são acusados de cumplicidade. Antes do telefonema de Sarkozy, Deby havia pedido duras punições e sugerido que as crianças poderiam acabar sendo vendidas para uma rede de pedofilia ou de tráfico de órgãos.
Na noite de ontem, a ministra francesa de Direitos Humanos, Rama Yade, disse na Assembléia Nacional que não abandonará os ativistas. As declarações da ministra e de Sarkozy representam uma reviravolta na posição francesa em relação ao caso. Na segunda-feira, o embaixador Bruno Foucher havia defendido que o julgamento dos acusados ocorresse no Chade. Na manhã de ontem, um conselheiro do chanceler Bernard Kouchner revelou que a maioria das 103 crianças - com idades entre 3 e 10 anos - é do próprio Chade, negando tratar-se de órfãos de Darfur, como afirmam os ativistas. A porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Annette Rehrl, também disse acreditar que não se trata de órfãos.
O novo porta-voz da Arca de Zoé, Christophe Letien, e o advogado de defesa Gilbert Collard convocaram uma entrevista coletiva em Marselha para expor sua versão. Collard descreveu a atitude da ONG como 'desrespeito anárquico' à lei, em nome da sobrevivência das crianças. Letien disse que a 'ação de resgate' foi organizada para 'salvá-las da morte' na guerra civil. Na França, os supostos órfãos de Darfur seriam entregues a famílias previamente contactadas, que teriam contribuído para a operação. Em média, cada uma das 258 famílias envolvidas teria doado 2,4 mil à Arca de Zoé. Letien negou que as doações representassem 'compra' de crianças. 'As acusações de pedofilia e de tráfico que sofremos são grotescas', disse.
Carole Montillet, ex-campeã de esqui francesa e amiga do fundador da Arca de Zoé, Eric Breteau - um dos presos no Chade -, defendeu a organização. 'Eric é uma boa pessoa. É preciso que todos lembrem que ele ajudou a salvar crianças asiáticas na época do tsunami', disse ao Estado.
Em Paris, o presidente da Liga de Direitos Humanos, Jean-Pierre Dubois, pediu uma atitude imparcial do governo. 'Há grande desinformação sobre o caso. Nós partimos do pressuposto de que todos são inocentes até que se prove o contrário. O governo deveria defender o direito de seus cidadãos, mas em vez disso os recrimina', disse ao Estado.
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