Meninas violadas e criança morta
Grupos de jovens armados semearam o caos em Timor-Leste, vandalizando um convento e orfanato católico em Baucau, onde violaram várias jovens estudantes, uma delas com 12 anos, e matando pelo menos uma criança em Viqueque. Num incidente separado, uma patrulha da ONU foi atacada entre Fatumaka e Gariuai.
António Dasiparu, EpaO Subagrupamento Bravo da GNR é uma das forças internacionais que patrulham Timor-Leste
O Subagrupamento Bravo da GNR não esteve envolvido no controlo dos distúrbios de sexta-feira, que elevam mais ainda o já muito avultado balanço de estragos causados pela onda de revolta desencadeada esta semana na sequência da nomeação de Xanana Gusmão para a chefia do novo governo timorense.
“Esses jovens que consideram os padres, as freiras e a Igreja Católica seus inimigos, violaram as estudantes e destruíram a escola primária dos Salesianos”, afirmou Basílio Maria Ximenes, director do orfanato Don Bosco, afirmando-se convencido de que os jovens são simpatizantes da Fretilin.
Pedro Belo, chefe da polícia de Baucau, afirma ter já destacado uma equipa para investigar a ocorrência e deter os responsáveis.
Nos distúrbios de Viqueque, a morte de uma criança foi confirmada pelo porta-voz do governo de Timor, Hermenegildo Pereira. Trata-se da primeira vítima mortal conhecida da violência iniciada segunda-feira, após o anúncio do presidente Ramos-Horta de que empossaria Xanana na chefia de um governo sem a Fretilin, partido mais votado nas eleições legislativas de 30 de Junho.
Segundo dados da ONU, desde o início da violência foram incendiadas mais de 200 casas em Viqueque e Baucau, e detidas, por envolvimento nos distúrbios, pelo menos 75 pessoas, entre elas vários adolescentes. Pedro Belo afirmou que houve já 34 julgamentos, de que resultaram condenações a penas de prisão “entre três meses e cinco anos”.
Quanto à emboscada à caravana da ONU, foram detidos 13 suspeitos de envolvimento no incidente.
“Depois de ouvirmos notícias de que cinco polícias tinham sido atacados no distrito de Bercoli, na sexta-feira, enviámos dezenas de militares em missão de apoio, e foi então que eles nos atacaram”, explicou Pedro Belo, adiantando que se desconhece se alguns dos atacantes foram feridos ou mortos. Do lado da brigada mista da ONU e da polícia de Timor não houve baixas.
UM MILHAR DE REFUGIADOS NUMA SEMANA
Os distúrbios desta semana em Timor-Leste puseram em fuga cerca de mil pessoas que procuraram refúgio nas montanhas ou em casa de familiares fora dos distritos de Baucau e Viqueque, os mais caóticos.
O balanço provisório da violência indica que mais de 200 casas foram incendiadas e muitas outras foram assaltadas e vandalizadas. “Pelo que sabemos, não têm água nem comida, e nenhum responsável do governo os visitou”, afirmou José de Carvalho, comandante da polícia de Viqueque.
Outras fontes garantem que Xanana Gusmão, empossado primeiro-ministro na quarta-feira, debateu sexta-feira a situação e pondera enviar apoio humanitário aos desalojados. Recorde-se que em Abril e Maio de 2006, outra onda de violência, centrada em Díli, fez 37 mortos e pôs em fuga mais de 150 mil pessoas.
SAIBA MAIS
2006 foi marcado por uma vaga de violência que, entre Abril e Maio, fez 37 mortos e desalojou pelo menos 150 mil pessoas.
3000 é o número de efectivos internacionais actualmente ao serviço em Timor-Leste. O Subagrupamento Bravo da GNR, com 220 militares, é uma das forças no terreno.
MAIORIA CATÓLICA
Timor-Leste e as Filipinas são os únicos países asiáticos onde a maioria da população é católica.
POBREZA
Timor-Leste, com cerca de um milhão de habitantes, é considerado um dos países mais pobres do Mundo.
F. J. Gonçalves com agências
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