RIO DE JANEIRO (Reuters) - A União Européia pode fazer um esforço extra para que um acordo na Rodada de Doha de liberalização comercial seja alcançado, mas o prazo para o trabalho é exíguo, disse o presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso.
"A União Européia poderá fazer um esforço adicional na parte de tarifas agrícolas. A margem é limitada, mas podemos fazer o esforço se outros países fizerem um esforço (em outras áreas)", disse Barroso a jornalistas após proferir palestra na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
Ele criticou o foco, na sua opinião excessivo, do Brasil e de outros países na questão agrícola nas discussões da OMC (Organização Mundial do Comércio).
"É um erro ver a rodada como acontece com a opinião pública aqui no Brasil como uma rodada agrícola. O comércio mundial não é só agricultura. Há mercados de serviços e produtos industriais", disse.
"O G20, do qual faz parte o Brasil, deve fazer mais gestos na direção dos produtos não agrícolas e no mercado de serviços. É essencial para chegarmos a um acordo".
Barroso acredita que o mês de novembro seria a data limite para o fim das negociações da Rodada de Doha, uma vez que a partir do início de 2008 os Estados Unidos estarão envolvidos na sucessão presidencial.
"As eleições nos EUA em 2008 tornarão mais difícil um compromisso. A posição norte-americana é decisiva na questão agrícola. É preciso um esforço rápido, porque haverá sucessivas eleições e será difícil conseguir uma conjunção de idéias", declarou.
"Seria péssimo não fechar Doha. Seria um ponto negativo para a economia global, uma brecha no multilateralismo, e uma desilusão para os países mais pobres do mundo".
Barroso acrescentou que a UE pretende, em um eventual acordo, tornar livre o acesso a seu mercado por parte dos países mais pobres. Ele afirmou que acha o cenário atual das negociações favorável ao Brasil.
"Se se fechar a rodada como está, será uma grande vitória para o Brasil. Quando se quer muito é possível sair sem nada", disse ele durante a palestra.
"Vejam o que está na mesa, porque já é positivo", acrescentou Barroso, cobrando também um esforço complementar do Brasil e de outros países em desenvolvimento para o sucesso da rodada, que está praticamente paralisada desde que uma reunião na Alemanha entre Brasil, EUA, Índia e UE não alcançou acordo.
Ele opinou que a economia brasileira, e também da América Latina em geral, é ainda muito fechada, criando um obstáculo para negociações na OMC.
"A economia brasileira está se abrindo, mas por razões históricas e pelo modelo de desenvolvimento escolhido, ainda há um potencial para mais abertura (na região), ainda há dificuldades burocráticas e administrativas no comércio entre os países", disse, ao lembrar que não há barreiras entre os 27 países membros da UE, ao passo que o Mercosul ainda tem tarifas entre os países membros.
"Temos de superar idéias de populismo chauvinista, protecionismo e isolacionismo".
(Por Rodrigo Gaier)
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