Pesquisa do IBGE confirma que mulher enfrenta tripla jornada com casa, trabalho e cuidado com a família
A arquiteta e urbanista Andrea Michelini de Moura não reclama muito porque o marido até ajuda, mas a responsabilidade é dela, que cuida da casa, das crianças e da empresa
HELENICE LAGUARDIA/ ESPECIAL PARA O TEMPO
Casa, comida e roupa lavada é uma promessa que as mulheres brasileiras gostariam que os homens cumprissem mais. Um estudo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a divisão do tempo para os afazeres domésticos revela que até cresceu a proporção de homens que dizem limpar a casa, lavar a louça, fazer comida ou cuidar dos filhos. Em 2001, eram 42,6% da população masculina. Em 2005, esse percentual subiu para pouco mais da metade: 51,1%. O avanço, no entanto, ainda é irrisório quando se leva em conta que, entre as mulheres, a proporção chegava a 90,6%.
A economista e técnica do IBGE Cristiane Soares, 31, solteira e sem filhos, não quer marido que dê trabalho. Ela coordenou a pesquisa Tempo, Trabalho e Afazeres Domésticos: um estudo inédito do órgão baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001 e 2005. "O alvo do levantamento foi o uso do tempo e como a mulher e o homem possuem jornadas distintas em casa e na empresa, além de incluir o tempo gasto com deslocamento do local de trabalho até em casa", explica.
A pesquisadora não aponta dados animadores. "A mulher só tem quatro horas por dia para se dedicar ao estudo, lazer e cuidados pessoais, enquanto o homem tem, em média, cinco horas", diz. Entre as duas faces da moeda dos sexos, a mulher está submetida ainda a uma "tripla jornada" constituída dos afazeres domésticos, profissionais e o cuidado com os pais diante de uma população que assiste a um envelhecimento crescente.
Na região Sudeste a jornada da mulher é bem maior que nas outras regiões. Segundo a pesquisa, as mulheres dedicam 36,7 horas semanais para a vida profissional, em média, e os homens 44,2 horas semanais. Já no trabalho de casa, os homens dedicam apenas nove horas por semana, enquanto as mulheres gastam 21,3 horas semanais. Em termos gerais, a pesquisadora divide o universo masculino pela metade - 50% dos homens não realizam tarefas domésticas.
"Fazer é fácil"
Rodrigo Maciel, 31, pai de Tiago e professor de educação física, está na metade que ajuda. Ele colabora nos afazeres domésticos e toma conta do filho de 9 meses, adaptando os horários de trabalho na academia de ginástica à rotina da casa. "Minha mulher é pediatra e faz plantões, então tem dia que eu durmo com ele", explica. Ele conta que a rotina inclui "dar fruta no horário certo, mamadeira, banho, trocar fraldas, passear e até escolher a roupinha que combina com o Tiago". Para ele não é exaustivo, é uma questão de planejamento pessoal. Para quem não é muito animado com a vida doméstica, ele aconselha: "Estão perdendo uma boa parte da vida ao não ver o filho crescendo e não ajudar a mulher. Fazer menino é muito fácil". (Com Folhapress)
Homem ajuda pouco e dá trabalho
Não são apenas os filhos os responsáveis pela sobrecarga de trabalho doméstico feminino. O estudo do IBGE mostra que ter um homem em casa dá trabalho, independentemente do tamanho da família. Entre casais sem filhos, a média de horas por semana para os homens é de 10,2. Para mulheres, chega a 26,7.
Quando há filhos, a divisão fica em 9,2 horas semanais para eles e 26,7 para elas. Se todas as crianças forem menores de 14 anos, a jornada doméstica dos homens fica praticamente inalterada (9,5 horas) e a das mulheres chega ao pico de 29 horas.
Andrea Michelini de Moura, 34, arquiteta e urbanista, mãe de Giziet e Isabelle, casada com o funcionário público Daniel, 36, não foge à luta. “Parece que meu dia não cabe em 24 horas”, diz sobre a jornada sobrecarregada pela educação dos filhos, o cuidado com a casa, a empresa e o marido.
A emancipação feminina para ela foi um “abacaxi”. “Eu gosto de trabalhar, mas o homem ficou passivo”, diz. “Não posso reclamar do meu marido porque ele ajuda muito, mas a responsabilidade é minha”, conta a profissional que se desdobra para ficar com as crianças pela manhã e estende a jornada de trabalho na empresa à tarde e à noite. Sobre o futuro, ela não se anima. “É cultural, homem faz o trabalho doméstico como se fosse um favor.” (HL Com Folhapress)
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