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29 de julho de 2007

EUA vendem 20 mil milhões de dólares de armas para conter o Irão

Médio Oriente

Rita Siza

Os Estados Unidos preparam-se para assinar, na próxima semana, novos acordos de venda de armas com vários países aliados do Médio Oriente - uma medida destinada a conter a crescente importância do Irão e a reforçar a influência norte-americana na região. Os negócios, no valor global de 20 mil milhões de dólares, envolvem a Arábia Saudita (o maior beneficiário), os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, o Qatar, o Bahrain e o Sultanato de Omã.

Haverá ainda dois pacotes de ajuda militar, por dez anos, a Israel e ao Egipto, que ascendem a mais de 40 mil milhões de euros.

Estes acordos, que representam a maior negociação de armas da Administração Bush, têm um objectivo estratégico defensivo. Segundo fontes oficiais citadas pelos jornais sob anonimato, a ideia é fortalecer a capacidade de resistência dos países pró-ocidentais do Médio Oriente perante a expansão do Irão, que tem desafiado a comunidade internacional com o seu programa de enriquecimento de urânio, o qual, teoricamente, permitirá a produção de armas nucleares.

"Este é um desenvolvimento importante no quadro de uma estratégia regional mais vasta, que assenta na manutenção de uma forte presença americana na região", disse um dos responsáveis pelas negociações ao diário The Washington Post. "Estamos muito atentos às necessidades dos nossos aliados e também ao aumento da musculatura e agressividade do Irão. Uma maneira de lidar com esse problema é tornar mais fortes os nossos amigos e aliados.

"Os acordos estão a ser negociados há meses pela Casa Branca, e só deverão ser fechados esta semana, aproveitando a deslocação da secretária de Estado, Condoleezza Rice, e do chefe do Pentágono, Robert Gates, ao Egipto e à Arábia Saudita.

Arsenal sofisticado

Para já, o que se sabe é que a venda envolve um arsenal sofisticado de combate e de defesa aérea, como por exemplo mísseis ar-ar e outras bombas de precisão teleguiadas - os pormenores finais em termos de modelos e quantidades só deverão ser acertados nos próximo dias.

"Esperamos convencer o Congresso a manter a nossa tradição de negócios militares com os seis países membros do Conselho de Cooperação do Golfo" Pérsico, sublinhou ao Washington Post um dirigente ligado às negociações.

A Administração manteve já alguns encontros preparatórios com os legisladores, que terão acolhido bem a proposta, apesar de os apoiantes de Israel sempre manifestarem um certo nervosismo quando se fala na venda de armas aos seus vizinhos árabes.

Para minorar essas reservas, a Casa Branca anunciou igualmente a renegociação do acordo de cooperação militar com o Estado judaico, que expirava este ano.

Depois de ter cessado a ajuda económica a Israel, que se tornou num país industrializado, os EUA decidiram expandir os montantes da assistência militar: o novo protocolo prevê um aumento de mais de 40 por cento da actual comparticipação anual, para um total que ultrapassa os 30 mil milhões de dólares e se destina a ajudar os israelitas a manter a chamada "vantagem militar qualitativa" sobre as restantes potências da região. Como referiu um oficial do Pentágono, Israel precisa de substituir o seu arsenal depois do esforço da guerra contra o Hezbollah no Líbano no Verão de 2006.

O nervosismo que o negócio de armamento pode suscitar não diz respeito exclusivamente à posição de Israel. O acordo com a Arábia Saudita surge num momento particularmente tenso das relações entre os dois aliados. Os EUA estão muito insatisfeitos com o alegado papel da família real em Riad no apoio (financeiro) às organizações sunitas iraquianas que se opõem ao Governo do primeiro-ministro, Nouri al-Maliki - os americanos foram completamente apanhados de surpresa quando o rei Abdullah Aziz classificou a intervenção militar no Iraque como "ocupação estrangeira ilegal".

Ainda na semana passada, o embaixador americano na ONU (e antigo representante dos Estados Unidos em Bagdad) acusou a Arábia Saudita de estar a levar a cabo uma "política de destabilização no Iraque", num texto publicado no diário The New York Times. "Os países árabes sunitas da região devem passar uma mensagem afirmativa e positiva aos moderados do Governo iraquiano, para que estes saibam que os seus vizinhos estão com eles e os apoiam", sublinhou ontem ao NYT um responsável envolvido no processo. Segundo os americanos, entre 60 e 80 por cento dos operacionais jihadistas que chegam ao Iraque para executar ataques terroristas passam a fronteira saudita sem qualquer problema.

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