Por Marc Frank
HAVANA (Reuters) - Fidel Castro deixa o cargo de chefe de Estado de Cuba no domingo, após 49 anos no poder, mas ao menos nos próximos meses é provável que continue a ter influência sobre todos os aspectos do dia-a-dia de Cuba, e isso na qualidade de chefe do Partido Comunista Cubano (PCC).
Raúl Castro, irmão de Fidel, deve ser confirmado como o novo presidente do país no domingo, em uma sessão da Assembléia Nacional. Fidel, 81, cujo estado de saúde é delicado, manterá o posto de primeiro-secretário do PCC.
Segundo a Constituição cubana, esse é o cargo mais influente desse país de 11 milhões de habitantes.
"O Partido Comunista de Cuba é a força dirigente mais elevada da sociedade e do Estado", diz a Constituição de 1976. Não há na ilha caribenha nenhum outro partido ou grupo político.
Teoricamente, Fidel poderia usar seu cargo para bloquear quaisquer reformas sugeridas por Raúl que divirjam das opiniões dele sobre o que seja uma sociedade socialista.
"Já que Raúl prometeu implantar todas as mudanças sob a bandeira do Partido Comunista, o fato de Fidel continuar a ter poder dentro desse órgão pode ter um impacto decisivo sobre o formato e a natureza dessas futuras reformas", afirmou Dan Erikson, especialista em questões cubanas do grupo Diálogo Interamericano, com sede em Washington.
Na prática, ainda será preciso esperar para ver se Fidel, doente há mais de 18 meses, estará em condições de exercer o poder que acompanha o cargo partidário.
"Significaria trair minha consciência aceitar uma responsabilidade que requer mais mobilidade e dedicação do que estou fisicamente apto a oferecer", disse Fidel em sua mensagem de terça-feira, na qual anunciou seu afastamento da Presidência.
O dirigente entregou o poder, em caráter temporário, a Raúl Castro em julho de 2006 após ter sido submetido a uma cirurgia intestinal. Desde então, ele não aparece em público.
Membros do PCC esperam que Fidel abra mão da liderança da legenda dentro dos próximos 12 meses, quando o Congresso do partido escolhe novos dirigentes, completando assim a transferência formal de poder para seus sucessores.
Mesmo depois disso, no entanto, Fidel continuaria a ser um nome importante da política cubana, agora na qualidade de seu estadista veterano, escrevendo, dos bastidores, artigos a serem divulgados pelos meios de comunicação oficiais.
CONTROLE NO TOPO
Fidel tem sido o primeiro-secretário do PCC - com Raúl no cargo de segundo-secretário - desde a fundação da legenda, em 1965, seis anos depois de o movimento rebelde ter conquistado o poder.
Integrantes do partido dizem que Raúl vinha assumindo responsabilidades cada vez maiores mesmo antes de Fidel ter-lhe transferido o poder em caráter provisório, em 2006.
Em vista da falta de acesso às atividades do Politburo do PCC, é impossível determinar qual a real participação de Fidel nos processos de tomada de decisão do partido. Acredita-se, porém, que ele continua a ser consultado quando assuntos importantes são discutidos.
O partido conta com uma profunda penetração na sociedade cubana.
Seus 820 mil membros atuam por meio de células nos locais de trabalho e nos bairros, além de estarem presentes nas assembléias municipais e provinciais.
A grande maioria das famílias cubanas possui ao menos um membro seu dentro do partido ou dentro da União de Comunistas Jovens, o braço dele entre os cubanos mais novos.
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