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21 de fevereiro de 2008

Renúncia de Fidel expõe os limites dos candidatos à Casa Branca

Reféns do influente eleitorado de origem cubana da Flórida, para eles renúncia de Castro pouco muda campanha

Paulo Sotero

Washington - No ano e meio desde que Fidel Castro afastou-se da presidência de Cuba para cuidar da saúde, não houve mudança substancial na política de Washington em relação a Havana. O fato de os republicanos terem perdido o controle do Congresso americano para os democratas, em novembro, levou apenas a um abrandamento das normas que restringem o envio de dinheiro e as viagens à ilha por cubano-americanos, que a administração Bush havia apertado para atender o lobby anticastrista da Flórida - Estado que lhe deu a controvertida vitória na eleição presidencial de 2000.

As reações inicias dos três candidatos principais à Casa Branca à decisão do líder cubano de renunciar não apontam para alterações dramáticas na contraproducente e obsoleta política de isolamento da ilha - seguida por meio século por sucessivas administrações. Ainda que não se deva descartar a possibilidade de o presidente George W. Bush fazer um gesto conciliatório para desarmar aqueles que se opõem às mudanças em Havana, a dinâmica eleitoral da Flórida - que é fortemente influenciada pelo lobby anticastrista - opera na direção oposta.

De olho nos 27 votos da Flórida no colégio eleitoral, que decidirão o pleito presidencial de novembro, o candidato republicano, senador John McCain, confiou a assessoria para assuntos latino-americanos de sua campanha aos representantes do lobby anticastrista no Congresso - Ileana Ros-Lehtinen e os irmãos Mario e Lincoln Diaz-Balart. McCain reagiu ao anúncio da renúncia do velho ditador afirmando que ela não muda nada, pois “os irmãos Castro claramente pretendem manter o poder”.

ESTRATÉGIA DE HILLARY

A senadora democrata Hillary Clinton poderia estar falando sobre os EUA quando declarou, na terça-feira, que a nova liderança cubana terá de escolher entre “insistir nas políticas fracassadas do passado ou dar o passo histórico de trazer Cuba (de volta) à comunidade das nações democráticas”. O discurso, porém, acabou soando falso como o do conservador McCain.

Hillary enfrenta um problema eleitoral premente na Flórida. Para salvar sua candidatura da derrota para o seu colega democrata Barak Obama, a senadora de Nova York precisa convencer a direção de seu partido a permitir que as eleições primárias da Flórida, que ela ganhou por 50% a 33% em janeiro, passem a figurar na conta de delegados à Convenção Nacional em agosto.

A direção do Partido Democrata descredenciou a delegação da Flórida à convenção em represália à decisão do diretório estadual de ignorar sua ordem de não antecipar as primárias. Em tais circunstâncias, a última coisa que Hillary faria seria arriscar-se a perder o apoio de cubano-americanos no Estado, mesmo sabendo que a maioria deles vota com os republicanos.

Após a derrota na Flórida, Obama se deu conta de que seu carisma pessoal e suas promessas de mudança não entusiasmam os eleitores do Estado. Provavelmente por isso, ele foi cuidadoso. O senador de Illinois, que em agosto propôs o levantamento das restrições às remessas de dinheiro e às viagens à Cuba, e em janeiro se disse disposto a se reunir com inimigos dos EUA sem precondições, pesou cada palavra no comunicado que divulgou na terça-feira. “Se os líderes cubanos começarem a abrir a ilha para a democracia, os EUA precisam estar preparados para dar passos para normalizar as relações (com Cuba) e atenuar o embargo de cinco décadas”, afirmou ele.

A declaração de Obama foi a única a reconhecer que os EUA podem precisar adotar uma nova estratégia. Segundo seus assessores, uma vez eleito, Obama daria o primeiro passo e abandonaria a exaurida estratégia das últimas cinco décadas, que mantém a política americana para Cuba refém dos que controlam o poder em Havana e seus inimigos em Miami.

PESQUISA

Uma pesquisa recente da Florida International University mostra que tal iniciativa contaria com o respaldo da comunidade cubana no Estado, que é hoje mais jovem, mais americana e menos ideológica do que a dos primeiros exilados. Dois terços dos entrevistados disseram que apoiariam um diálogo político com o governo cubano. E mais de 57% aplaudiriam o restabelecimento de relações diplomáticas com a ilha.

Por ora, no entanto, a postura do senador de Illinois é muito parecida com a de seus rivais. Ela contraria o pragmatismo que os EUA seguem nas relações com outros governos totalitários, atribui ao regime antidemocrático de Havana a tarefa de iniciar a democratização e dispensa Washington da responsabilidade de formular uma nova política e de agir para ampliar o espaço de ação daqueles que trabalham em Cuba por uma transição pacífica para um regime político aberto e pluralista.

CUBA NA MIRA DOS CANDIDATOS AMERICANOS

Hillary Clinton: É favorável a manter o embargo enquanto não acontecer uma mudança democrática em Cuba. Depois do anúncio da renúncia de Fidel, pediu que Havana liberte todos os presos políticos e avance pelo caminho da democracia. Se assumir a Casa Branca, afirmou que vai motivar os países da América Latina e da Europa a assumirem o compromisso de fomentar uma transição pacífica à democracia na ilha. No Senado, votou a favor de fundos para uma emissora anticastrista.

Barack Obama: É favorável a levantar as restrições às viagens e ao envio de remessas dos EUA a Cuba. Depois do afastamento de Fidel, disse que os EUA deveriam se preparar para começar a tomar medidas para normalizar as relações diplomáticas e aliviar o embargo, contanto que a ilha tomasse um rumo mais democrático. No ano passado, Obama afirmou, em artigo, que estava disposto a iniciar um diálogo bilateral para normalizar as relações entre os dois países.

John McCain: Como senador votou sistematicamente a favor de sanções contra Cuba. Em 1992, co-patrocinou o Ato Democrático Cubano, para exercer mais pressão sobre a ilha e promover a democracia. Depois da renúncia de Fidel, disse que Washington deve seguir pressionando Havana para conseguir a libertação de todos os presos políticos, para legalizar partidos e sindicatos, liberalizar os meios de comunicação e organizar eleições com supervisão internacional.

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