da Lusa, em Dili
Vítor Alves, tio do major Alfredo Reinado, afirmou nesta terça-feira à agência Lusa que "não havia indícios" de que o militar fugitivo preparava o ataque à casa do presidente de Timor Leste, José Ramos Horta.
Reinado morreu no atentado de segunda-feira (noite de domingo no Brasil), no qual o presidente foi alvejado. Vítor Alves, empresário e atual membro do Conselho de Estado de Timor Leste, falou com Reinado "horas antes" do ataque a Ramos Horta.
"O Alfredo estava calmo. Não havia indícios de que esta ação iria existir", afirmou Vítor Alves à Lusa, em sua casa no bairro Marconi, em Dili.
No entanto, Reinado teria dito que "a situação se prolongou por muito tempo" e teria que ser "resolvida de uma vez", contou Alves à Lusa.
Ele descrevia seu último contato com Reinado enquanto, a seu redor, decorriam os preparativos para o velório e o funeral do ex-comandante da Polícia Militar.
"É mais um silêncio que se apaga", declarou Alves sobre seu sentimento, um dia após seu filho de criação ser morto. O empresário é tio de Alfredo Reinado e cuidou do major desde os três anos, a ponto de ser chamado de "tio-pai" do militar timorense.
O empresário deixou de acompanhar o crescimento do futuro rebelde após a invasão de Timor Leste, em 1975, abrindo caminho para a adolescência conturbada do sobrinho na Indonésia, onde ficou durante quase dez anos.
"Sempre existe um sentimento. Ninguém queria que uma parte desta família caísse em desgraça", afirmou Vítor Alves sobre a reação da família.
Ameaças
O empresário timorense afirma ter recebido "ameaças anônimas" nos últimos dois dias, o que o levou a desistir de participar da reunião do Conselho de Estado de Timor Leste, na tarde de segunda-feira.
"Disse-lhes que desisti de ir por causa das ameaças que estou recebendo e que só poderia ir à próxima reunião se me dessem proteção", relatou.
Alves faz parte do Conselho de Estado nomeado pelo presidente José Ramos Horta em 2007. Sobre a forma como Reinado morreu, ele não quis se pronunciar, dizendo apenas que "tinha que acontecer desta forma".
"Queira Deus que, com a queda do meu sobrinho --ou do meu filho, como dizem--, a situação de Timor melhore. [...] Que a situação [de instabilidade] acabe de uma vez para sempre e que dê paz e sossego a todo o povo", declarou Vítor Alves à Lusa.
Morte
O pai de criação de Alfredo Reinado afirmou também que não restam dúvidas sobre a morte do militar, uma vez que "houve informações confirmativas".
"Está lá o rapaz, já morreu, acabou. Que não criem mais confusão, que não façam mais asneira, que não caiam mais em desgraça, que dêem paz e sossego para fazer um funeral", pediu o empresário.
Em relação ao ataque à casa de José Ramos-Horta, o também ex-paraquedista do Exército Português disse não saber como ocorreu.
"O homem está morto. Se fez asneira, está morto e vai ser enterrado com todas as asneiras que ele fez. Se estava fazendo uma ação de bem, também vai ser enterrado com todas as ações de bem", acrescentou o tio do major Alfredo Reinado. "Que fiquem calmos. Acabou".
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u371612.shtml
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