Depois da paralisação de segunda, quando o transporte começou a operar com quase duas horas de atraso, capital tem mais uma manhã de trânsito parado
Solange Spigliatti
SÃO PAULO - Apesar de ônibus e Metrô estarem funcionando normalmente na manhã desta terça-feira, 24, a cidade registrava alto índice de congestionamento às 8 horas, segundo medição da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Eram 101 quilômetros de trânsito lento nas principais ruas e avenidas monitoradas pela empresa, um índice bem maior que a média para o período, que é de 79 quilômetros.
Além do excesso de veículos, dois caminhões quebrados contribuíam para o aumento da lentidão na zona sul da cidade. Na Marginal do Pinheiros, um dos veículos estava ocupando a faixa da direita da pista sentido Interlagos, 800 metros após a ponte do Jaguaré, desde as 6h30.
Outro caminhão ficou parado desde as 6h30 na faixa da direita na Avenida Washington Luiz, 50 metros após a Rua Ministro Pedro Chaves. Um acidente envolvendo duas motocicletas e um veículo de passeio deixou uma vítima na Avenida Rubem Berta, próximo ao viaduto 11 de Junho.
Paralisação
Na segunda-feira, 23, motoristas e cobradores de ônibus e funcionários do Metrô começaram a trabalhar cerca de uma hora mais tarde em protesto contra a chamada Emenda 3, em tramitação no Congresso Nacional. Ao invés de saírem às ruas e começaram a operar a partir das 4h30, os funcionários do sistema de transporte público da cidade começaram a trabalhar gradativamente, sendo que alguns terminais de ônibus só iniciaram as operações às 6h45. Com isso, o trânsito ficou complicado na cidade.
Dois grupos aderiram ao protesto, mas só um sabia o porquê. Por causa do trabalho de divulgação do seu sindicato, metroviários sabiam o motivo da paralisação, o que não ocorreu com motoristas e cobradores.
O Estado conversou com 20 metroviários e 20 motoristas e cobradores. Do primeiro grupo, todos sabiam o que representava a paralisação. Do segundo, só quatro mostraram algum conhecimento do assunto.
“Nunca ouvi falar em Emenda 3. Cheguei de manhã e encontrei tudo parado”, admitiu o motorista José Aparecido Barreiro, de 38 anos. O presidente do sindicato da categoria, Isao Hosogi, admitiu falhas na divulgação do ato. “Eles só ficaram sabendo quando chegaram às garagens.”
Um dos quatro bem informados era Severino Cabral, de 43 anos. Convicto, respondeu: “A Emenda 3 tira o direito de os fiscais atuarem nas empresas, deixando os trabalhadores desprotegidos.” E provocou: “Que mais você quer saber?”
Para o sociólogo especialista em Relações do Trabalho José Pastore, foi justamente esse desconhecimento que provocou a paralisação. “É uma greve política e ilegal, mas foi a estratégia para envolver a população na discussão”, disse. “Quando a população não tem opinião pró ou contra não há influência sobre os parlamentares.”
Entenda a Emenda 3
A Emenda 3 é um item incluído por parlamentares na legislação federal que criou a Super-Receita. Pela emenda, auditores fiscais ficariam proibidos de multar empresas prestadoras de serviços, mesmo se julgarem que esses contratos estejam disfarçados de relações empregatícias.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a emenda no dia 16 de março, mas o Congresso pode derrubar o veto e transformá-la em lei. Entidades acham que emenda representa uma agressão aos direitos trabalhistas - já que, em teoria, as empresas não teriam mais que respeitar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) nas contratações.
(Colaboraram Humberto Maia Júnior e Camilla Rigi.)
{Costa}
Nenhum comentário:
Postar um comentário