Líderes da comunidade islâmica brasileira criticaram a escolha do muçulmano chamado para o encontro inter-religioso com o papa Bento XVI no Brasil e acusaram a Igreja Católica no País de dificultar o diálogo com esse convite. Segundo eles, Armando Hussein Saleh, que participará do encontro com o Papa, não é xeique e não representa a comunidade, tendo sido indicado apenas por ter boa relação com o rabino Henry Sobel.
Saleh admite não ter diploma universitário de teologia, mas diz que foi convidado devido ao bom diálogo com as outras religiões, mesmo motivo pelo qual foi ao velório do papa João Paulo II na comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005.
"Ele é uma pessoa simples, mas não sei nem se ele tem o primeiro grau. Não é xeique. É uma pessoa boa, mas não nos representa", disse o xeique Ali Abdouni, um dos dois eleitos pela comunidade para representar o Islã no Brasil. "O erro não é dele. A própria Igreja Católica, que fez o convite, deveria saber quem são os representantes legais... se nos chamarem agora nós vamos ter que ver", disse. "A nossa programação também pesa, nós não estamos sentados esperando o evento (da visita do Papa). Como comunidade, não somos convidados", acrescentou.
A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) marcou para 10 de maio uma reunião do pontífice com líderes religiosos no Mosteiro de São Bento, com convites a seguidores das outras duas grandes religiões monoteístas ¿ judaísmo e islamismo ¿ e de outras denominações cristãs.
O outro líder muçulmano eleito porta-voz da comunidade por 40 xeiques de todo o Brasil, Jihad Hassan, afirmou que a Igreja precisa rever a postura diante dos muçulmanos brasileiros, estimados por ele em cerca de 1 milhão de pessoas. "Eles nos conhecem, sabem os nossos contatos e têm o nosso endereço. É um jeito errado de se buscar diálogo entre as religiões", afirmou. "Não é porque esse senhor aparece em eventos com outros líderes, como o rabino Sobel, que ele representa a comunidade muçulmana. Não representa".
Saleh ponderou que todo muçulmano praticante pode ser um bom representante e lamentou pelas reclamações porque "é melhor a comunidade se manter unida no debate inter-religioso". Ele citou como amigos o ex-arcebispo de São Paulo d. Cláudio Hummes e o sucessor dele, d. Odilo Scherer, além de Sobel.
"Talvez eu possa fazer isso melhor porque não dependo tanto desse vínculo com as entidades. Eu não vivo da religião, sou empresário do ramo moveleiro. Mas infelizmente não é assim que as coisas acontecem. Me sinto honrado da mesma forma", disse.
Segundo ele, que se diz um missionário pela paz mundial independentemente de qualquer crença ou fé, o convite foi feito pela CNBB e é intransferível. A assessoria da comissão que organiza a visita do Papa ao Brasil disse que os religiosos foram convidados para o encontro com base em dados que confirmam sua importância dentro da comunidade e reforçou que não será retirado nenhum convite.
Apesar disso, pode haver novas indicações de líderes para dialogar com o Papa no caso de uma reclamação mais formal por parte de alguma comunidade religiosa, segundo a assessoria.
Além dos representantes do islamismo e do judaismo, a reunião no Mosteiro de São Bento também contará com mais cinco líderes: d. Maurício Andrade (Igreja Anglicana), d. Leolino Gomes Neto (Igreja Católica Ortodoxa Siriana), reverendo Manuel de Souza Miranda (Igreja Presbiteriana Unida), pastor Walter Altmann (Igreja Luterana) e Antonio Bonzoi (Igreja Cristã Reformada).
Bento XVI ficará em São Paulo de 9 a 11 de maio, onde se encontrará com o presidente Lula e realizará a canonização de frei Galvão, o primeiro santo nascido no País. Nos dias 11 e 13, ele visitará Guaratinguetá, cidade de frei Galvão, e Aparecida, onde presidirá a abertura da 5ª Conferência Geral dos Bispos da América Latina e Caribe. O Papa volta a São Paulo no final do dia para retornar ao Vaticano.
Reuters
{Costa}
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