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20 de abril de 2007

Presidenciais francesas e a regra da «surpresa»

«As surpresas na eleição presidencial são quase uma regra». Foi desta forma que Pascal Perrineau, director do Centro de Estudos da Vida Política Francesa (Cevipof), respondeu a um leitor da edição electrónica do jornal francês Le Monde, sobre o primeira volta da escrutínio que se realiza este domingo, quando os candidatos já se remeteram ao silêncio devido ao início do período de reflexão, até à abertura das urnas.
As últimas sondagens colocam na frente o candidato conservador, Nicolas Sarkozy, seguido pela socialista Ségolène Royal e pelo centrista François Bayrou. Numa posição não negligenciável surge Le Pen, a voz da extrema-direita francesa, e o poder insondável dos indecisos.
Nos últimos quatro meses, os cenários apresentados pelas consultas de opinião apresentaram poucas alterações significativas. É certo que houve uma maior aproximação entre os três primeiros candidatos, com uma ascensão sustentada de Bayrou, que contudo continua em terceiro, e uma subida de Le Pen para níveis semelhantes aos que lhe permitiram protagonizar um confronto directo com Jacques Chirac, nas últimas eleições.
Mas, mesmo com uma convicção próxima da certeza, relativamente a uma passagem de Sarkozy à «finalíssima» de 6 de Maio - com Royal uns furos mais abaixo nesta escala - Bayrou e Le Pen aparecem com aspirações reforçadas por um espectro eleitoral que prefere manter-se atrás da cortina. Um simples desarranjo nas urnas na ordem dos dois ou três pontos percentuais, catalizado por este poder escondido, alterará completamente as contas.
Dentro da moldura das previsões, surge mais um esboço do que um quadro de tendências definidas, com 13 por cento dos eleitores franceses a mostrarem-se avessos a certezas. E enquanto os analistas procuram perscrutar-lhes a dúvida, eles parecem responder na alínea branca das sondagens com um desconfortável: «Já vos diremos no domingo».
«Em 1981, ninguém tinha previsto a queda do candidato comunista. Em 1995, ninguém tinha previsto a chegada de Jospin à frente dos candidatos. Em 2002, ninguém tinha previsto a passagem de Jean-Marie Le Pen à segunda volta», sintetizou assim Pascal Perrineau a forma como os franceses preferem tomar decisões, recorrendo à eloquência dos factos.
Quando a esquerda e a direita se confundem
Numa conversa telefónica, com o PortugalDiário, Pascal de Lima, investigador lusodescendente do Instituto de Ciências Políticas de Paris, militante do Partido Socialista Francês, e ligado à candidatura de Ségolène Royal, apresentou uma chave de leitura para as incertezas, que estão longe de ser marginais.
«Os últimos estudos sociológicos sugerem que o problema da indecisão se prende com o facto das pessoas não saberem muito bem a distinção entre o programa da esquerda e o programa da direita. Tem-se a impressão, em França, que a direita é um pouco à esquerda e que a esquerda é um pouco à direita e os indecisos estão ligados a esse factor», explicou.
De qualquer forma, mesmo que a regra da «surpresa» permita a Bayrou e a Le Pen sonharem, Sarkozy e Royal parecem mais perto de surpreender, quebrando esta regra.
{Costa}

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