Lula mudou o tom e criticou greve dos controladores de vôo; Clube da Aeronáutica escreveu mensagem aos seus associados atacando duramente o governo
Rosana de Cassia e Leonencio Nossa
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom e criticou a greve dos controladores de vôo. Nesta segunda-feira, 2, no programa de rádio Café com o Presidente, Lula classificou a greve da categoria, iniciada na última sexta-feira, 30, como "grave". Mais tarde, em reunião com o ministro da Defesa, Waldir Pires, e o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, no Palácio do Planalto, o presidente não teria escondido a "decepção" com a Força Aérea Brasileira (FAB).
Lula teria pedido à Aeronáutica um levantamento completo da situação de equipamentos e das condições de trabalho no setor aéreo. O presidente também teria criticado o ex-comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, que deixou o cargo no final de fevereiro, por não ter informado sobre o sucateamento dos equipamentos de auxílio de vôo e as condições de trabalho dos controladores. O presidente disse ter sido "surpreendido" com a sucessão de problemas no setor.
Em seu programa de rádio, Lula criticou a "irresponsabilidade de pessoas que têm funções que são consideradas essenciais e funções delicadas, porque estão lidando com milhares de passageiros".
Protestos
A posição de Lula gerou protestos no Clube de Aeronáutica, entidade composta majoritariamente por militares da Força Aérea Brasileira que estão na reserva. O clube enviou, no domingo, mensagem aos seus associados atacando duramente o governo. Assinada pelo seu presidente, o tenente-brigadeiro do Ar, Ivan Frota, o Clube ameaça entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) com Ação Direta de Inconstitucionalidade contra as decisões do presidente Lula de não punir os controladores rebeldes e desmilitarizar o controle do tráfego aéreo, e denunciá-lo por crime de responsabilidade.
Militares da ativa consultados pelo Estado disseram que há realmente indignação na Força. Mas não acreditam que o documento possa servir para insuflar o pessoal da reserva e gerar mais manifestações. "A indignação é muito grande porque todos sabem que houve insubordinação, houve motim, que é crime, e ninguém será punido, contrariando todos os fundamentos da hierarquia e disciplina, princípios básicos da nossa carreira", comentou um oficial. "A nossa esperança é que o Ministério Público faça a sua parte, exigindo a punição dos criminosos", disse outro oficial.
Frota, que foi candidato à Presidência em 1998 pelo PMN, afirma que houve um "ostensivo e arbitrário" descumprimento da Constituição e de outras leis nas decisões do governo durante a crise aérea. "Ao impedir a punição dos controladores de vôo, militares amotinados, o presidente da República descumpriu deliberadamente a Constituição, sendo passível de ter incorrido em crime de responsabilidade", diz a mensagem. O documento afirma ainda que o "manifesto de insubordinação lançado pelos controladores de vôos militares é uma preciosidade de cinismo, até porque seu ridículo jejum não durou mais do que algumas horas".
Colaboraram Tânia Monteiro e Fábio Graner.Texto alterado às 11h05 para acréscimo de informações.
{Costa}
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