Quem já depôs poderá ser ouvido novamente e há possibilidade de acareação
Adriana Fernandes e Gustavo Porto
Ed Ferreira/AE
Policiais federais retiram de aeronave documentos apreendidos na Operação Hurricane, no hangar da Polícia Federal em Brasília
BRASÍLIA - A Polícia Federal vai reiniciar os depoimentos dos presos na Operação Hurricane (furacão, em inglês) na segunda-feira, 16, às 8 horas. Quem já depôs poderá ser ouvido novamente e há possibilidade de acareação entre os presos. Depois de tomar 17 dos 25 depoimentos previstos, a PF decidiu mudar a estratégia e suspendeu os depoimentos neste domingo, 15. Como a maioria dos ouvidos seguiu a instrução dada pelos advogados, de reservar as respostas para dá-las apenas em juízo, o comando da investigação concluiu que era melhor aproveitar o tempo analisando o material já apreendido.
Os advogados orientaram seus clientes a adotar essa estratégia em protesto por não terem tido acesso ao conteúdo do processo. Eles afirmaram que a Polícia Federal não tem observado as mais básicas prerrogativas da profissão e tem ferido diversos princípios constitucionais na condução das investigações.
A reclamação é generalizada. Segundo relatos, os principais problemas estão na proibição de acesso aos autos do inquérito, ao conteúdo dos depoimentos já tomados pela PF e à falta de diálogo com seus clientes. O advogado Délio Lins e Silva - que representa o procurador da República João Sérgio Leal Pereira - afirmou que só conseguiu falar com seu cliente, por cinco minutos, depois de 30 horas da chegada dele a Brasília.
De fato, o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que expediu as ordens de prisão, não autorizou, durante o fim de semana, o acesso dos advogados aos autos do processo, apesar de terem sido apresentados requerimentos nesse sentido. Eles aguardam para esta segunda-feira o acesso ao autos do processo, quando vence o prazo para a prisão preventiva. Se a PF considerar insuficiente o prazo para a coleta de informações, o prazo da prisão poderá ser estendido por mais cinco dias.
Material apreendido
A Operação Furacão prendeu, no Rio, na última sexta-feira, 25 pessoas, incluindo desembargadores, advogados, bicheiros e delegados da Polícia Federal. Junto com eles, documentos que somam cerca de duas toneladas, incluindo papéis e discos rígidos de computadores. Com a avaliação do material, os agentes pretendem traçar um raio X da atuação da máfia e de suas ramificações em outros Estados. Um avião fez, neste domingo, dois vôos entre Brasília e Rio de Janeiro para transportar todo o material.
Investigadores da PF avaliam que podem encontrar pistas sobre mais pessoas envolvidas no esquema, inclusive no Poder Judiciário. A expectativa é descobrir ramificações do esquema em São Paulo e no Distrito Federal. Um dos pontos de partida da PF será analisar as agendas dos presos apreendidas na operação.
Foram transferidos agendas, discos rígidos de computadores e também jóias e relógios recolhidos. O avião da PF fez duas viagens do Rio a Brasília para transportar todo o material. Cerca de 50 policiais estão trabalhando desde domingo à tarde na análise da documentação. Dez deles ficaram encarregados dos interrogatórios dos presos e deslocados da carceragem à sede da PF, onde os documentos foram guardados.
A PF também apreendeu 51 veículos avaliados em cerca de R$ 10 milhões, incluindo uma Mercedes-Benz de cerca de R$ 550 mil. Além dos veículos, a PF apreendeu cerca de R$ 10 milhões em dinheiro, R$ 5 milhões em talões de cheques, US$ 300 mil, 34 mil euros e 400 libras esterlinas. Grande parte do dinheiro estava escondida numa das casas revistadas, atrás de uma parede falsa, que foi arrebentada a marretadas pelos agentes federais.
A operação
A Operação Hurricane realizou na sexta-feira, 13, 25 prisões nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e no Distrito Federal e ocorreu após um ano de investigações, ordenadas em uma operação sigilosa pelo ministro do Supremo Tribunal Federal.
A operação teve como objetivo desarticular uma organização criminosa que atuava na exploração do jogo ilegal e cometia crimes contra a administração pública. Foram cumpridos 70 mandados de busca e apreensão e 25 mandados de prisão contra chefes de grupos ligados a jogos ilegais, empresários, advogados, policiais civis e federais, magistrados e um membro do Ministério Público Federal.
A investigação começou há um ano na 6ª Vara Federal do Rio, com a juíza Ana Paula Vieira de Carvalho e, em setembro de 2006, foi remetida pelo procurador geral da República, Antônio Fernando de Souza, para o Supremo Tribunal Federal, devido ao surgimento do nome do ministro do Supremo Tribunal de Justiça Paulo Medina.
A partir de então, o inquérito 2.424/2006 passou a ser presidido por Peluso. Ele autorizou a instalação de escuta, inclusive no gabinete de Carreira Alvim, cujos microfones foram descobertos no forro do teto. Alvim, que disputava a presidência do TRF, acusou na época a direção do Tribunal pelos grampos. Na eleição, ele foi derrotado por 15 votos a nove.
Os presos
- Ailton Guimarães Jorge - bicheiro, conhecido como Capitão Guimarães, é presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro
- Ana Claudia Rodrigues do Espírito Santo
- Anísio Abrão Davi - bicheiro e presidente de honra da Beija-Flor
- Antonio Petrus Kallil - bicheiro, conhecido como Turcão
- Carlos Pereira da Silva - delegado da Polícia Federal de Niterói
- Delmiro Martins Ferreira
- Ernesto da Luz Pinto Dória - juiz do Trabalho do TRT da 15ª Região (Campinas, SP)
- Evandro da Fonseca - advogado
- Francisco Martins da Silva
- Jaime Garcia Dias - advogado
- João Sérgio Leal Pereira - procurador da República. Acusado de integrar esquema de fraudes em sentenças judiciais ao lado do desembargador Ivan Athié. Está afastado do cargo. Foi preso na Bahia.
- José Eduardo Carreira Alvim - ex-vice-presidente do TRF-2.ª Região, do Rio de Janeiro e Espírito Santo, e desembargador federal
- José Luiz Rebello
- José Renato Granado Ferreira - empresário
- José Ricardo de Figueira Regueira - desembargador federal
- Júlio Guimarães Sobreira
- Laurentino Freire dos Santos
- Licínio Soares Bastos
- Luiz Paulo Dias de Mattos - delegado da Polícia Federal
- Marcos Antônio dos Santos Bretas
- Paulo Roberto Ferreira Lima
- Sérgio Luzio Marques de Araújo - advogado e irmão do juiz federal Marcelo Luzio
- Silvério Néri Cabral Junior - advogado
- Susie Pinheiro Dias de Mattos - delegada da Polícia Federal. Estava licenciada para exercer o cargo de corregedora da Agência Nacional do Petróleo (ANP), com função era combater as fraudes de combustíveis.
- Virgílio de Oliveira Medina - advogado. Irmão do ministro do STJ Paulo Medina
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{Costa}
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