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1 de abril de 2007

Nova greve não está descartada

BRASÍLIA – Surpreendidos com a própria demonstração de força, os controladores de tráfego aéreo exigirão, em reunião na terça-feira, uma definição numérica da gratificação salarial como uma espécie de “garantia” de que todas as reivindicações serão atendidas. Caso contrário, poderá haver outra paralisação, na véspera do feriado de Páscoa. A categoria já montou uma “rede de mobilização”, que está pronta para disparar um novo aviso de greve em todo o país. Isso pode ocorrer se a negociação falhar ou se qualquer item assinado for descumprido, principalmente o que se refere às punições pelo motim. Não está claro que valores serão colocados na mesa. Alguns controladores afirmam que a gratificação precisa ser de cerca de R$ 3.000 – o que mais que duplica o salário médio de um sargento. Assim, pensam, ficará garantida a desmilitarização, processo cuja transição pode tardar vários anos. O ponto-chave da negociação é que a ameaça de paralisação ainda está em jogo. No acordo assinado com o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, pouco antes da meia-noite de sexta, não foi firmado nenhum compromisso de que os controladores não iriam realizar outro protesto ou greve. Mesmo sem outra paralisação, os controladores mantêm “as rédeas” do controle de tráfego aéreo. Eles retomaram o controle dos aviões na madrugada de ontem, com forte restrição de fluxo. O controle de fluxo (espaçamento entre decolagens) tem dois propósitos. O primeiro, é a segurança. Os sargentos avaliam que a retomada de um enorme acúmulo de vôos não pode ser feita com ânimos exaltados ou com cansaço do motim de mais de cinco horas. Também querem deixar claro que o sistema é “limitado” e não comporta o crescimento da aviação civil recente. Em segundo, é uma forma direta de exercer pressão. Caso tudo corra como pretende a categoria, o fluxo aéreo pode estar normalizado na terça- feira e os acúmulos de vôos cancelados, zerado. Caso contrário, os atrasos serão prolongados, com repercussão direta nos aeroportos. >Imagem < O fator mais preocupante para a categoria é a opinião pública. A conclusão foi de que a negociação rápida com Bernardo, de uma hora e meia, na sexta-feira, foi benéfica para evitar desgastes maiores ou o “castigo” indireto de passageiros. A escalada do protesto para uma paralisação completa não foi programada. Os controladores pretendiam realizar um protesto mais gradual, com o aquartelamento voluntário e uma greve de fome que acabaria repercutindo nas escalas. No final da tarde de sexta-feira, porém, o Cindacta- 1 mudou o rumo da manifestação por causa da ameaça de oficiais de “usar o regimento militar”, isto é, prender os amotinados. Além disso, o Cindacta-4 (Manaus) já estava em estágio mais avançado de protesto. O Cindacta-2 (Curitiba) aderiu ao motim no começo da noite e chegou a aglomerar cerca de 70 controladores na sala de controle. Ali, houve descompasso com as negociações que ocorriam em Brasília, e a ameaça de prisão pairou até o início da madrugada de ontem. As negociações na terça devem acontecer diretamente entre dois dirigentes da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA) de Brasília e integrantes do gabinete de crise. Antes do motim, na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia se reunido com as autoridades do setor de aviação e exigido dia e hora para o fim da crise aérea. O ministro Waldir Pires, da Defesa, havia colocado o prazo de 15 dias para fazer um diagnóstico completo do problema e propor soluções, mas o discurso do ministro não foi considerado convincente pelos controladores, que decidiram, então, cruzar os braços. O alerta dos controladores de vôo sobre suas condições de trabalho vem desde o acidente com o avião da Gol, em setembro do ano passado. Eles reclamam do mau funcionamento dos equipamentos e do número de aviões que são obrigados a controlar simultaneamente, que é acima do permitido pelas normas internacionais. (Folhapress) Bastaram cinco horas de caos para governo ceder BRASÍLIA – Bastaram cinco horas de caos nos aeroportos para que o governo se rendesse à força dos controladores e negociasse um acordo para pôr fim à greve. “Aprendemos que podemos parar o país e exigimos ser ouvidos. Chega de arbitrariedade e desrespeito”, disse um dos sargentos que liderou o movimento. O governo iniciou as negociações de forma dura, anunciando a possível prisão de 18 controladores e punições para os líderes da rebelião. A resposta foi o maior episódio de motim no setor, com quebra aberta de hierarquia. A rebelião dos controladores começou na troca de turno, no final da manhã e se estendeu até a madrugada. O momento de maior tensão foi quando o comandante do Cindacta- 1, brigadeiro Carlos Aquino, convocou os quatro controladores mais antigos para dar a eles voz de prisão, no início da tarde. Nesse instante, um segundo sargento levantou a voz e deu início ao motim, anunciando que se ele fosse prender alguém, teria que prender a todos. Era o momento de troca de turno e o pessoal da manhã declarou-se aquartelado e em greve de fome. O pessoal da tarde aderiu ao movimento, que aos poucos espalhou- se por todo o país, afetando mais de 40 aeroportos. Pelo menos 120 dos 200 controladores em ação em Brasília cruzaram os braços. O que ocorreu a seguir foi o retrato do caos nos aeroportos. Estabeleceu-se que não seriam mais autorizadas decolagens e que só os aviões em vôo seriam monitorados até a aterrissagem. No início da noite de sexta-feira, os aeroportos pararam. Enquanto a negociação seguia, controladores de folga e os da reserva técnica foram colocados de prontidão, tanto pelo governo, como pelo comando de greve, a fim de restabelecer a normalidade assim que se chegasse ao acordo. Diante das notícias de prisões e retaliações aos grevistas, mulheres e familiares dos controladores amotinados se aglomeraram em frente ao portão do Cindacta, rezaram de mãos dadas e fizeram manifestações de apoio ao movimento. >Desespero < Segundo o presidente da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo, Wellington Rodrigues, para que militares se rebelassem dessa forma, a ponto de quebrar a o princípio “sagrado” da hierarquia, algo de muito ruim estava acontecendo. “Foi um ato extremo, de desespero, ante a total desconfiança na autoridade”, resumiu Wellington Rodrigues. (Agência Estado) >Infraero preocupou-se com acidentes < BRASÍLIA – O presidente da Empresa Brasileira de Infra- Estrutura Aeroportuária (Infraero), brigadeiro José Carlos Pereira, disse que a normalização dos vôos em todo o país só deverá ocorrer na próxima terça-feira. “A malha aérea foi totalmente destruída. Hoje temos atrasos que variam de 28 horas a 20 minutos”, disse Pereira. Ele explicou que o prejuízo na malha aérea da greve dos controladores de vôo decorre do fato de, por cerca de dez horas, mais ou menos 1.200 vôos programados terem sido cancelados. O brigadeiro reconheceu que o governo foi lento para enfrentar a crise e fez uma comparação da situação com um acidente de carro. “Eu não diria que houve falha (do governo), mas houve, sim, um problema de ‘timing’. O tempo de reação não foi correspondente ao tempo da ação”, afirmou. “Isso é como dirigir um automóvel. Quando a gente não freia, bate. Nós freamos a tempo, porque graças a Deus não houve mortos nem feridos”, completou. No auge da crise, quando os aeroportos ficaram paralisados, Pereira disse que se concentrou apenas “em evitar tragédias” e não se envolveu nas negociações com os controladores de vôo. Segundo ele, houve registro de “grande número” de quebra-quebras, agressões e atendimentos médicos, mas não citou números. (Agência Estado) >Desmilitarização do setor começa na terça < BRASÍLIA – A partir da próxima terça-feira, o governo começa a colocar em prática um plano gradual de desmilitarização do controle de tráfego aéreo, ponto crucial do acordo fechado no início da madrugada de ontem, para pôr fim à greve da categoria. A migração do pessoal militar para o sistema civil pode começar já e, se houver vontade política, pode ser concluída ainda este ano, segundo prevê o presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), Wellington Rodrigues. Mas a migração técnica envolve um trabalho meticuloso, que pode levar de dois a três anos para a reestruturação dos sistemas de controle de vôo, de comunicação e de meteorologia. “O importante é a sinalização do governo de que a desmilitarização vai acontecer e terá prazo para ser concluída”, afirmou. Segundo Rodrigues, cerca de 90% dos 2.200 controladores militares querem aderir ao sistema civil. Transição Para os atuais controladores, o critério deverá ser o de prova de títulos. As futuras contratações, só por concurso. De acordo com Rodrigues, os militares teriam que assinar um termo de adesão voluntária, pelo qual perderiam a patente militar e assinariam contrato com uma futura agência que cuidaria do controle de tráfego aéreo. Os que não quiserem migrar, permaneceriam com suas patentes, mas seriam remanejados para o controle de tráfego aéreo das bases militares. “Lutamos muito por essa solução civil, mas a transição tem que ser feita com todas as cautelas para não haver o menor risco à segurança do tráfego aéreo”, disse Rodrigues. O acordo também prevê anistia a todos os líderes e dirigentes da categoria punidos nos últimos seis meses, em consequência dos protestos e motins que se seguiram às investigações do desastre com o Boeing da Gol, em 29 de setembro do ano passado. (Agência Estado) {Costa}

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